quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Carlos.

          Carlos era um garoto triste. Não sabia se sua vida merecia ser vivida. Até o dia em que ele encontrou uma garota pela qual se apaixonou. No início eram apenas amigos, mas depois começaram a namorar. Desde então, Carlos amou um dia ter suportado a dor.

          Carlos um dia morreu. E enquanto em seu leito, com o pouco de consciência que lhe restava, viu sua amada chorar e sofrer seu túmulo. Percebeu que se morresse sozinho, jamais teria causado tanta dor. Desde então, Carlos arrependeu um dia ter sido feliz.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Sentimentos.

          O clima estava tenso, a tristeza acertava fortemente cada pessoa naquele lugar. Por algum motivo aquilo não me atingia. Eu não sabia o que fazer diante da situação que se apresentou. Deveria estar triste?

          A morte de um ente querido, para muitos, é frustrante. Mas é evidentemente inevitável. Prometi a mim que, se eu perdesse alguém amado, estaria pronto. Preparado para perder qualquer um, a qualquer hora, em qualquer lugar, diante de qualquer situação. E eu estou. Provei a mim mesmo hoje. Mas isso não significa que eu não ame, pelo contrário, assim eu posso amar muito mais, sem medo de sofrer ao perder a pessoa amada.

          Todos, a primeiro momento, choraram. Fui para longe assim não reparariam que nenhuma lágrima sequer saira de meus olhos pela notícia. Aproveitei a oportunidade para jogar, mas logo me interromperam. Diziam que não era hora para aquilo. Agora, porque alguém morreu, eu tenho que parar toda a minha vida e viver o tédio da situação.

          Isto, na verdade, não faz sentido. Todos os meus parentes são cristãos e a morte, para eles, é ir para perto de deus. Este acontecido deveria ser comemorado em um bar, com petiscos, bebidas e defunto.

          Passaram-se dois dias, o clima estava melhor. Podia, finalmente, fazer minhas coisas sem interrupções. E desde aquele dia fiquei pensando: "Se estas pausas de vida acontecessem em todo o mundo, para cada pessoa que morresse, todos morreriam. Quem alimentaria o mundo?".

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Desespero.

        Correndo, Correndo. Gritos ensurdecedores vindo de todos os lados. Fica cada vez mais difícil respirar. Fumaça. Não vejo para onde vou. Corro batendo em paredes. Tento saber se há uma saida. Somente muros. Nem uma janela. Calor. Está quente. Odor fumegante. Nenhuma ajuda. Vejo pessoas morrerem. Vejo preto. Vejo vermelho.

          Sinto uma dor na minha cabeça. O teto caiu. Quente. Continuo cambaleando. Em minha frente, uma saida. Sem caminho. Sem chão. Na abertura, tudo já foi consumido. Minha única esperança é saltar.

          Recuo. Será a primeira e ultima tentativa. Vejo-o queimar. Fogo. Crio coragem. Não tenho escolha. Corro e salto. Tudo fica devagar. Me aproximo do outro lado. Está longe.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Solidão.

          Só, como sempre. E isto é ótimo. A solidão é o melhor dos sentimentos, porque é o único que você sente para si mesmo. Até o desejo, que é o mais mesquinho de todos eles, é necessário mais alguém, ou algo. E se por acaso a pessoa se desejar, obviamente ela se terá. Mas quando este individuo se tiver completamente, sem ninguém para interferir, isto se chamará solidão.

          Ficar aqui, a noite, vendo o céu sobre o horizonte, enfeitado sempre quase da mesma forma, é perfeito. Posso pensar sem interferência, escrever sem interrupção, e sentir honestamente. Uma pena este sentimento não poder ser eterno, ele cansa, vai se tornando, aos poucos, tedioso.

          O tempo foi passando e ficar aqui já está insuportável. Irei sair um pouco, passear, encontrar alguns amigos. Nada garante se será divertido ou não. Quando há mais de uma pessoa presente, muitas variaveis são incalculáveis. Porém, no momento que ficar só não é mais um prazer, só me resta arriscar a sorte.

domingo, 1 de julho de 2012

Prisão.

          Não me lembro como dormi, mas acordei ainda cansado. Levantei-me com dores. Um cheiro fétido rondava o ar. Quando finalmente voltei a mim e me dei conta de onde estava, tive uma surpresa desagradável. O lugar era velho, tudo parecia cair aos pedaços, meio apertado, e extremamente úmido, a ponto de ser difícil respirar. Uma de suas quatro paredes eram barras de metal, estavam enferrujadas e a tinta descascava, porém ainda eram resistentes. O portão que ali havia estava trancado. A pior parte é que não existia, em nenhuma parte, sinal de comida.

          Após aproximados dois dias tentando abrir o portão, sem ao menos poder ver a luz do sol, não me aguento mais de fome. A morte já está certa, mas me recuso desistir tão facilmente. Tento ver se há algo ao lado desta cela. Coloco o braço para fora e começo a apalpar a parede. Sinto, com esforço, as pontas de meus dedos tocarem alguma coisa. Aparentam ser chaves, mas estão longe o suficiente para que eu não possa apanhá-las.

          Estava quase em um ato de contorcionismo, quando chega a meus ouvidos um som de corte, seguido do som de uma batida dura, como se quisessem abrir um buraco na parede. Imediatamente paro de sentir as chaves e me vem uma insuportável dor que me faz recuar. Caio no fundo do quarto, meu braço não veio. Vejo uma quantidade de sangue, que nunca imaginei ter, sair de meu corpo.

          Olho para as grades tentando descobrir o que havia acontecido. Vejo surgir um homem mascarado, estava carregando consigo um machado ensanguentado. Minha visão começa a embaçar e percebo que não há mais formas de sobreviver. Sem me restar mais escolhas, aceito o meu destino. Encosto a cabeça na quina da cama e durmo.

Liberdade.

          Não sei mais o que faço. Esta dúvida vem me corroendo desde o momento em que meus sonhos cairam. Tudo foi esmurrado, literalmente. Só a lua agora me faz companhia.

          Olhando para todo este imenso campo vejo vários destes brinquedos. Todos feitos para crianças. Nunca em minha vida tive tamanha vontade de poder voltar a brincar.

          Andando sem rumo meu corpo me guia para, talvez, o único lugar que se compara a meus sentimentos. Acabei entrando no labirinto de espelhos. Para onde olho, me vejo. Os espelhos olham para todos os lados. Onde os espelhos não enxergam ele me persegue. Ele é meu medo. Ele é aquilo que destruiu meu futuro. Ele era meu futuro. Ele não está mais aqui. Foi-se para não voltar. O amor ainda existe, mas presença não.

          Mal consigo continuar andando. A dor está se tornando insuportável. Não pelo lado sentimental, mas porque realmente dói. Ele me bateu, e não foram tapas de brincadeira, foram socos e chutes. Caio no chão, e vejo que os espelhos não alcançam o teto. Será o céu minha única fuga?

          Com dificuldade, e apoiando em um dos espelhos, me levanto. Este agora está sujo com um pouco de sangue. Mas espalhado em meu corpo há muito mais do que um humano poderia perder. A este ponto a maior parte já se secou.

          Este sangue não veio de mim. Após a surra só me restou ódio e dor. Não me controlei. Com a própria faca que ele portava consigo o esfaqueei. O cortei de cima a baixo. Pensei que isso me libertaria, e fez totalmente o contrário. Só me sentia cada vez mais e mais presa. Agora é tarde para me desculpar.

          Finalmente saio do labirinto. Luzes e sirenes se aproximam. Era a polícia. Minha decisão tinha que ser tomada. A faca, ainda depois de tudo, estava em minhas mãos. Quem imaginaria que uma palavra como faca poderia tomar o lugar da palavra destino.

          Eles começaram a entrar, e quando me viram vieram correndo. Em um único instante pensei em o que aconteceria se fosse pega nesse momento. Talvez cadeia, talvez hospício. De qualquer forma não poderia deixar que me prendessem mais.

          Minha decisão foi tomada. Com um movimento rápido, antes que me alcançassem, perfurei meu pescoço. Todos ali presentes se desesperaram, mas não tinha mais volta. Minha visão começava a embaçar e sentia meu último suspiro chegar. Talvez agora finalmente estivesse livre.

Sonhos.

          Já era noite, estava deitado. Olhava os céus como alguém que procura algo e não sabe mais onde procurar. E realmente não sabia. Absolutamente nenhum ruido vindo de nenhuma direção chegava aos meus ouvidos. A brisa que tocava minha pele me lembrava o suave toque que aquelas mãos marcavam. O mesmo vento me fazia sentir o vazio restante de sua ida. Em tudo vejo sua falta. Miro o olhar nas estrelas para tentar esquecer. Mas a cada forma em que eu as riscava, como em um jogo de ligue os pontos, eu via os traços daquele rosto. Sentia frio, como nunca havia sentido antes.

          Ficar aqui não mais me ajudará. Na verdade só está atrapalhando. Agora volto pra casa. A escuridão me assombra em cada beco. A cada esquina que viro espero encontrar aquele ser. Mas o destino só me oferece postes. Os quais mal o caminho sabem iluminar. A cada vez que vejo um breu, imagino vê-la ali. Mas todas essas vezes me decepciono.

          Assim que chego em casa, subo as escadas. Elas rangem e, novamente, ela não está ali para, carinhosamente, abafar o som chamando meu nome. Deito-me. A cama parece maior do que de costume. O silêncio incomoda. Com um pouco de dificuldade durmo. Uma noite sem sonhos. O que devo esperar amanhã? Só espero que meu sonho volte.